Conheça a história do corredor mineiro Giovani dos Santos, que superou condições totalmente adversas na vida, entre elas o alcoolismo, para ir atrás dos sonhos... e das medalhas
Texto: Élida Ramirez | Fotos:
Cento e noventa e duas medalhas. Noventa e três troféus. Todos conquistados com muito suor em cinco anos de carreira. Tanto sucesso deixou a sala da casa do corredor mineiro Giovani dos Santos pequena. Ele mora em Natércia, no Sul de Minas. A última vitória, a medalha de bronze no Pan-Americano, em Guadalajara, uma cidade do México, em outubro deste ano, consolidou a carreira de Giovani dos Santos. Hoje, ele é o terceiro melhor do mundo na categoria profundismo.
Mas seu caminho começou anos atrás, com muita dificuldade e sem nenhuma pretensão. Giovani era um dos sete filhos de família pobre de um município desconhecido. Na infância jogava futebol. Cresceu na zona rural, trabalhando na roça e não entendia nada de atletismo. “Na verdade, nem sabia o que era correr. Eu fui aprender depois que servi o exército e lá eu descobri que eu tinha o dom de correr”, confessa Giovani.
Mas seu caminho começou anos atrás, com muita dificuldade e sem nenhuma pretensão. Giovani era um dos sete filhos de família pobre de um município desconhecido. Na infância jogava futebol. Cresceu na zona rural, trabalhando na roça e não entendia nada de atletismo. “Na verdade, nem sabia o que era correr. Eu fui aprender depois que servi o exército e lá eu descobri que eu tinha o dom de correr”, confessa Giovani.
Após cumprir suas obrigações militares, ele voltou para a zona rural de Natércia. Incentivado pelos bons resultados nas corridas, passou a treinar por conta própria. Nessa época, Giovani trabalhava na colheita de café. E depois de oito horas de trabalho na plantação, ele trocava de roupa, corria em busca de um sonho. As condições de treinamento eram improvisadas por causa da estrada de terra, dos morros, da falta de tênis e de roupas apropriadas. E quando chovia, não passava ninguém. Só Giovani que arregaçava as mangas e consertava a estrada para correr. “Na época de chuva, eu pegava a enxada e vinha fazendo as valetas pra água sair, pra não fazer muito buraco onde eu treinava porque isso aumentava as chances de eu me machucar. Arrumava o caminho e seguia.” A rodovia era uma outra opção de local para treinamento, mas também oferecia riscos. Giovani explica preocupado: “É que o chão não dá aderência igual as pistas que também não têm acostamento. Então, precisa dividir espaço com carros, caminhões, bois e cavalos.” |
Além do preparo físico improvisado, Giovani encontrou um outro obstáculo. Esse, ainda mais complicado de superar: o abuso de álcool. “O pessoal da colheita, geralmente, bebia mais no fim de semana, né? A gente aproveitava pra descansar e tomar uns goles. E eu nunca sabia a hora de parar”, confessa. A irmã mais velha de Giovani, Ana Marta dos Santos, conta que o exagero na bebida atrapalhava a vida em família. “A bebida não fazia bem pra ele. Porque bebia e se transformava. Não sei o que passava por sua cabeça, mas ele queria quebrar tudo”, relembra com tristeza. Até os amigos se preocupavam. Leonardo Barreto da Silva, que cresceu com Giovani, fala das farras regadas a álcool.“A gente tomava muita cerveja junto. Ele ainda bebia cachaça e não tinha limite. Permanecia bebendo, caía, treinava mal no dia seguinte. Isso até os 25 anos.” Giovani reconhece que a bebida atrapalhava seu desempenho profissional e pessoal: “Às vezes eu corria de ressaca, nem comemorava nada e ia para o bar beber cerveja.” O corredor se viu numa encruzilhada e precisava escolher o caminho. Ele fala que foi tocado por uma luz divina que deu a ele condições de parar de beber sem nenhum tratamento: “Toda vez que me dava vontade eu corria. Com um foco: vencer o Pan”. |
Determinação, fé, superação. Giovani conquistou reconhecimento mundial. Na cidade natal é herói. A professora aposentada Paulina Orse fala da importância social das vitórias de Giovani. “Ele pode ser referência fazendo do esporte uma porta à prevenção do abuso de álcool e drogas. E mais, Giovani plantou no coração, especialmente das crianças, uma semente de sonho e esperança. Ele é um exemplo.” O secretário de Esportes de Natércia, Silviano Abreu, concorda com Paulina e diz que pretende desenvolver projetos de esporte na cidade. Na família, os tempos de crise no casamento por causa do álcool ficaram no passado. Uma prova é o orgulho da esposa, Camila dos Santos.“Antes era assim, quando ele chegava do cafezal e da corrida não tinha tempo pra mim porque ia para o bar. Mas, mesmo quando a gente brigava e faltava comida, eu nunca deixei de acreditar nele. Meu marido é batalhador, lutou demais pra chegar até o lugar que chegou. Ele passou por muitas dificuldades e venceu, graças a Deus.” |
A filha do atleta, Giovana, não desgruda de Giovani. “Agora, eu me sinto orgulhosa desse pai que eu tenho.” Para outra irmã, Maria Marta dos Santos, ele conseguiu o que ninguém esperava. “Essa quantidade de medalhas na parede só tem sentido porque hoje vive tranquilo e sem bebida. Eu sou mais velha que ele, mas aprendi que não há limites quando uma pessoa quer vencer. Quem diria que um peão de cafezal subiria no pódio para ser premiado em uma competição internacional? Ver o seu sucesso renova minha coragem, meus sonhos”, diz. Giovani bate no peito e reforça que seu maior desafio, a sobriedade, foi alcançada e que o amor de todos ajuda a mantê-lo fortalecido. “É fundamental a gente ter um apoio desse em casa. É combustível para carreira e a prosperidade da gente. E o meu recado para todos que têm um sonho, qualquer que seja: lutem por ele, acreditem em suas habilidades, usem suas limitações a seu favor. Reunam todas as forças. Se tudo parecer estar dando errado, recomecem de outra forma. Não desistam. Porque é possível vencer.” Fonte http://www.revistaviverbrasil.com.br |
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